Blog “Ciências Exatas Contemporâneas”, de
autoria de Álaze Gabriel.
Disponível em http://cienciasexatascontemporaneas.blogspot.com.br/
Autoria:
1
- Rachel Cristina Vesu Alves. Doutoranda do Programa de Pós-graduação em
Ciência da Informação da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP – Campus de Marília.
2
- Vângela Tatiana M. Banhos. Mestranda
do Programa de
Pós-graduação em Ciência
da Informação da
Faculdade de Filosofia e Ciências
da UNESP – Marília.
3
- Ana Lúcia A. O. Bicheri.
Mestranda do Programa
de Pós-graduação em
Ciência da Informação
da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP – Marília.
4
- José Eduardo Santar em Segundo. Tecnólogo em Processamento de Dados.
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Faculdade
de Filosofia e Ciências da UNESP –
Campus de Marília.
5 - Luana Maia Woida. Mestranda do Programa de
Pós-graduação em Ciência da Informação da Faculdade de Filosofia e Ciências da
UNESP – Campus de Marília.
CIÊNCIA
DA INFORMAÇÃO, CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO E
RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS MÉTODOS E TECNOLOGIAS
DA INFORMAÇÃO UTILIZADOS AO LONGO DO TEMPO
RESUMO
A recuperação da informação vem sendo
estudada sob duas visões: da área da Ciência da Informação e da Ciência
da Computação. A
discussão fundamenta-se em
uma breve revisão
de literatura, buscando contemplar os
precursores das temáticas
de tratamento informacional
(organização e representação),recuperação da informação, bem
como, as Tecnologias de Informação e Comunicação. Com o objetivo de estabelecer
as relações e
contribuições entre as
áreas de Ciência
da Informação e
Ciência da Computação, em
relação à recuperação
da informação, destaca-se
uma contribuição mútua
entre as áreas, no
intuito de garantir
acessibilidade e usabilidade
ótimas dos ambientes
informacionais diversos.
1
INTRODUÇÃO
A
preocupação com a recuperação da
informação vem de
épocas remotas e
passou a ser amplamente abordada
e discutida em
diversas áreas do
conhecimento. Ganhou atualmente
maior destaque devido à
quantidade crescente de informações disponibilizadas e pelo uso de
Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC’ s, constituindo-se em um tema
comum entre áreas tais como a
Ciência
da Computação e Ciência da Informação -
CI . A CI é
uma área que
busca investigar , entre
outros assuntos, a
geração, a organização,
o processamento, a recuperação
e o uso da informação, em
diversos ambientes. É, por natureza, uma área
interdisciplinar, por isso
seus estudos recebem contribuições de
várias áreas, ao mesmo tempo em
que seus produtos
são subsídios para
as outras áreas
do conhecimento. Além
disso, está intimamente ligada
com as Tecnologias de Informação e Comunicação vigentes. Deste modo, é nítido
que a CI estabelece uma relação com a
Ciência da Computação no que se refere à recuperação da informação. Assim, a discussão está fundamentada em uma
breve revisão de literatura da
CI, buscando contemplar
os precursores das
temáticas de organização
e representação da informação,
da recuperação da
informação, bem como
das Tecnologias de Informação e Comunicação.
Lembrando que
a preocupação com a recuperação
da informação é uma constante
na CI e também sendo contemplada nos estudos de
Ciência da Computação, o objetivo a
ser tratado está em estabelecer as
relações e contribuições da CI para a área de Ciência da Computação e
vice-versa, no que se refere à recuperação da informação.
Tendo
em vista que
a organização, representação
e recuperação da
informação sempre estiveram
atreladas ao uso das tecnologias vigentes, propõe-se abordar os princípios e metodologias de organização
e representação da
informação estabelecidos na CI, bem
como as ferramentas
e TIC’s da área
de Ciência da
Computação para facilitar
os processos de
recuperação, as quais procuramos enfocar na Web Semântica.
Par a
isso, ter-se- á como
base de análise as
idealizações de Paul
Otlet com a
questão da organização do
conhecimento; as idealizações de Vannevar
Bush na questão das tecnologias para a recuperação da
informação; e o atual estudo da Web
Semântica proposto por Tim Berners-Lee,
que busca uma melhor
recuperação baseada não
só em tecnologias
avançadas, mas também
com uma melhor organização e
representação do conteúdo disponibilizado.
2
PRECURSORES E FATOS HISTÓRICOS DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO: ALGUNS ASPECTOS SOBRE RELAÇÃO COM A
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
O
desenvolvimento humano tem
proporcionado inovações tecnológicas
que contribuíram par a que
todas as áreas
do conhecimento, tanto
teórica como prática,
se desenvolvessem mais rapidamente e
com resultados mais
expressivos. Neste sentido,
as novas tecnologias
criadas nas últimas décadas, em especial
as TIC’s, tornaram- se ainda mais
evidentes nos últimos anos.
Seus
reflexos podem ser
percebidos na CI
por ser uma
área intimamente ligada
às tecnologias de informação.
Vários teóricos, tal
como Saracevic [1996],
consideram a tecnologia como elemento chave no
desenvolvimento desta ciência, pois a
criação de ferramentas tecnológicas subsidia o desenvolvimento das teorias no propósito de alcançar os objetivos estabelecidos na CI em relação
aos problemas aos
quais ela se
dedica resolver. Contudo
é importante ressaltar
algumas características da CI,
tal como sua
origem, características e
relações com as tecnologias de informação, para que possam ser criadas bases para uma posterior discussão.
Pode-se
dizer que a
CI é uma
ciência recente, sua
origem é marcada
pela revolução científica e
tecnológica após o
período da Segunda
Guerra Mundial [Messias,
2005]. A origem da CI, de acordo
com Pinheiro [1999, p. 175], advém de suas raízes, [...] de um lado a Documentação
e, de outro a recuperação da informação.
Na primeira o que importa é o registro do conhecimento científico, a memória intelectual da civilização e, no segundo,
as tecnologias de
informação. Ciência e
Tecnologia foram os
elementos fertilizadores e propulsores de seu nascimento, fruto
do crescimento de equipes
científicas, do aumento do
número de cientistas
e pesquisadores, e
da aceleração de
pesquisas, portanto, de conhecimento, além
dos desenvolvimentos tecnológicos, esforços
decorrentes sobretudo da 2ª
Guerra Mundial. E
as tecnologias, principalmente os
computadores a fazem emergir.
Uma
definição freqüentemente retomada
na literatura é
a do teórico
Borko. Este, por
sua vez, fundamentou-se nas
discussões e primeiras
tentativas de diferenciar
a CI tanto
da Biblioteconomia como da Documentação, ocorridas no Georgiatech entre
1961 e 1962. Ciência da Informação
é a disciplina
que investiga as propriedades e
o comportamento da informação, as
forças que governam
seu fluxo de
informação, e os
meios de processar
a informação para otimizar
sua acessibilidade e
uso. Esta é
relacionada ao corpo
de conhecimento relativo à
origem, coleta, organização,
armazenamento, recuperação, interpretação, transmissão,
transformação e utilização
da informação [...]
[Borko, 1968, tradução nossa].
Há que
se considerar esta uma das definições mais importantes, pois corrobora com as afirmações de
que a área é
interdisciplinar e que tem
influências de outras áreas
sob o prisma pelo
qual percebe os
problemas relacionados à
informação, bem como
todas as formas
de trabalho realizado sob
o ciclo informacional. Nesse
contexto, a abordagem
sobre as tecnologias da
informação torna-se de
particular interesse para
os objetivos da
presente discussão, uma vez
que não se
trata apenas de
novidades de informática,
mas sim das principais ferramentas
tecnológicas e métodos
que venham a
contribuir para o
tratamento da informação.
Pode-se
dizer que a
preocupação em organizar
e tornar acessível
por meio da recuperação os
registros do conhecimento
se constitui um
tema antigo na
CI. Isso pode
ser notado nas primeiras
tentativas do homem
de armazenar, organizar
e recuperar a
informação registrada, sendo que
em cada época
utilizava-se das tecnologias
disponíveis para que a recuperação da
informação pudesse ser
realizada. Essa vertente
da origem da
CI é utilizada por alguns autores, tal como Shera
apud Messias [2005].
Ainda em
relação à origem,
destacam-se alguns autores
que estão diretamente
ligados ao desenvolvimento e
uso tecnológico na CI em seus respectivos tempos, autores
conhecidos e que tem papel decisivo
na história da área; são
eles o belga
Paul Otlet e
o americano Vannevar
Bush. Atualmente destaca- se o inglês Tim
Berners-Lee, que será
abordado nessa discussão
no intuito de confrontar os estudos anteriores com os
atuais. Estes teóricos utilizaram, direta ou indiretamente, as tecnologias de
informação e métodos
de organização e representação da informação no desenvolvimento de
suas pesquisas, contribuindo
fundamentalmente par a o
desenvolvimento das áreas de CI e
Ciência da Computação.
O
cientista belga Paul
Otlet , reconhecido como
o “pai” da
documentação, representa um marco
dentro da história
relativa dos precursores
da CI . A
visão ampla de Otlet revolucionou
o modo de trabalhar
com a informação
em sua época,
pois não só
sistematizou as questões
teóricas presentes no problemático
crescimento exponencial dos
documentos, mas principalmente estabeleceu metodologias
e técnicas na
tentativa de solucionar
a questão da
recuperação, acesso e circulação
da informação [Santos,
2006]. Otlet fez
se valer das
tecnologias disponíveis na
época para que pudesse
colocar em prática
suas idealizações de
universalização do acesso
ao conhecimento.
Juntamente com
Henri La Fontaine,
Otlet foi líder
do Movimento Bibliográfico ocorrido na Europa no final do século XIX e início do XX, no qual procurou desenvolver meios de acesso ao conhecimento. Seus estudos foram de grande contribuição
para, [...] a ampliação do conceito de documento; o estabelecimento de sistemas
de tratamento e recuperação da informação
como são entendidos
atualmente; a estruturação
de redes internacionais de
cooperação para a
coleta e disseminação
da informação e o
estabelecimento da Documentação
[Santos, 2006, p. 14].
Contudo,
é no estabelecimento de sistemas de tratamento e recuperação da informação que se concentra
seu trabalho. Otlet
e outros pesquisadores
envolvidos fundaram em
1895 o Instituto Internacional de
Bibliografia – IIB
e iniciaram uma
revolução nesta área.
Ao contrário dos bibliotecários, basicamente
centrados no documento,
Otlet buscou desenvolver
técnicas e métodos de organização baseado no conteúdo
dos documentos.
Pretendiam uma organização mundial da
informação e par a isso suas pesquisas voltaram-se
para o desenvolvimento de
um sistema de
informação especializado e
de produtos, tais
como o Repertório Bibliográfico
Universal que contemplava
a produção científica
da época. Outra importante ferramenta
desenvolvida por Otlet
em 1899 foi
a Classificação Decimal
Universal - CDU, técnica que
ainda é utilizada por grande parte das bibliotecas do mundo. Para Otlet
a CDU era uma representação sistemática do conhecimento que, por
meio de códigos padronizados, estabelecia os relacionamentos e
vínculos entre os
assuntos representados e
posteriormente com os
objetos.
Deste
modo, pode-se dizer
que a grande
contribuição de Otlet
foi o enfoque
dado ao conteúdo informacional e às técnicas
e métodos de
tratamento informacional desenvolvidas
para a disponibilização, acesso e recuperação da informação. Em fins
da Segunda Guerra
Mundial destacou-se Vannevar
Bush [1945], cientista americano que
coordenou mais de
6000 cientistas, bem
como a aplicação
da ciência para o
desenvolvimento de sistemas
armamentistas. Contribuiu para
avaliar o estado
da ciência e da
tecnologia e preocupou-se em tornar o
conhecimento humano mais
acessível. Fez comentários que se
identificariam diretamente com
os interesses da
futura CI e
sua interdisciplinar idade com profissionais dedicados à tecnologia da
informação.
Diagnosticou a dificuldade cada
vez maior do
desenvolvimento científico em
função de ineficientes sistemas
de produção, organização,
acesso, recuperação e
disseminação da informação devido ao
crescimento do conhecimento
humano. Alertou para
a perda de
conteúdos importantíssimos
em meio a
uma imensidade de
outros textos e
conseqüente duplicação de pesquisas. Mas
o problema não se restringia
ao quantitativo aumento
de informações, e
sim na maneira de
processá-la, na demanda
de pesquisas e
experiências que pediam
processamentos que fizessem circular
eficazmente um volume
infinito de informação.
Para gerenciar este
problema, havia a necessidade de novas
tecnologias (novas metodologias,
instrumentos e máquinas).
Já
naquela época Bush
abordou preocupações atuais
da comunidade científica
e da humanidade como
um todo: Qual
a maneira eficiente
de armazenar e
recuperar o conhecimento humano? Como fazer uso apropriado do crescente volume de
informações? Como impedir que uma informação relevante
passe despercebida em meio
a uma abundante
geração de conhecimento? Como mecanizar o registro de
idéias e experiências de forma a não estacionar
no tempo em função da limitada
capacidade de memória? Bush explicava que
a mente humana
funciona por associação
de idéias e
elaboração de trilhas que levam
uma idéia a outra, e afirmava que o homem não poderia duplicar artificialmente tal processo, mas
poderia aprender com
ele [Bush, 1945].
Ao sugerir a forma do
pensar para transformar informação
em conhecimento inseriu
a noção de associação de
palavras/conceitos na organização
da informação. Acabou por descrever
a idéia do que conhecemos hoje por hipertexto.
Mencionou que
o registro feito
por meio da
escrita, fotografia e
gravação com suportes
e recursos que envolviam papel,
filme, disco, lápis e máquina de
escrever, se aperfeiçoaria e evoluiria, fazendo surgir em
novos meios de
transmissão do conhecimento. Expôs
que o registro
de idéias precisava, além
de estar armazenado
em algum lugar,
ser consultado. Sugeriu
a redução de
espaço par a disposição de
informações contidas em
uma enciclopédia e
em todo um
acervo de biblioteca, minimizando espaço, custo e aumentando a possibilidade de acesso
[Bush, 1945].
Sua visão é imensamente importante para
a CI, pois além dos aspectos já citados,
falou em facilitar e agilizar
o registro, a
busca e recuperação
da informação, alertando
para o problema
de localização da informação,
ligado à superficialidade dos
sistemas de indexação
adotados (normalmente ordem alfabética ou numérica). Bush idealizou
um mecanismo para
automatizar as ações
de armazenar, indexar
e recuperar conhecimento, chamando
esse aparelho de
Memex (Memory Extension).
Foi uma das principais contribuições que levaram ao
desenvolvimento teórico de um equipamento que tinha por princípio reproduzir
a capacidade de
associação das idéias
humanas. Essa era
a característica essencial do
Memex, qual seja, a possibilidade de se estabelecer associação de idéias, ligações entre um item e outro. O Memex, caso
chegasse a existir, ser ia uma máquina hipertexto, um precursor do computador
pessoal, seria um misto de arquivo e
biblioteca. Um dispositivo onde
se armazenariam livros,
publicações, registros, anotações
e fotos, e
que poderia ser
consultado com extrema velocidade e flexibilidade, como se
fosse uma extensão da memória humana.
Infelizmente a tecnologia da época não acompanhou
o conhecimento teórico de Bush e assim não permitiu o desenvolvimento do Memex,
porém é fácil perceber que sua idéia deu origem à relação hipertextual,
utilizada hoje em dia em grande escala pela internet. O pensamento em forma de
conexões é realmente
algo diferenciado na
época de Bush,
visto que todas
as teorias e pensamentos
eram construídos linearmente. Com tamanha visão e imaginação, pode-se afirmar
que Bush foi um pioneiro de uma ideia que tantos anos depois originou a World
Wide Web.
3
VELHOS PRINCÍPIOS, NOVAS ABORDAGENS:
O REPERTÓRIO BIBLIOGRÁFICO UNIVERSAL E A WEB SEMÂNTICA
Conforme
já apontado a
recuperação da informação
é uma questão
de interesse de
duas áreas, a CI
e a Ciência
da Computação, é
o ponto de
convergência de técnicas,
métodos e tecnologias par a um
fim comum.
Os
avanços tecnológicos modificaram
o modo de
realizar as tarefas
em diversos ramos de
atividade, contudo, conforme
aponta Alvarenga [2001]
"Mudam- se os meios,
sofisticam- se os instrumentos e
surgem nomes novos
par a designar coisas
velhas. Entretanto, a
essência das coisas permanece". Em
outras palavras, é preciso
destacar que as
atuais Tecnologias de
Informação e Comunicação possuem
princípios de organização,
representação e recuperação
da informação, os quais
já foram pensados e até mesmo utilizados em outros contextos.
Podemos
visualizar essa inter-relação
quando tratamos, por
exemplo, do Repertório Bibliográfico Universal
e da Web
Semântica. Duas tentativas
de se oferecer
acesso ao conhecimento mundial, tendo
como características épocas e contextos distintos, porém, com alguns princípios semelhantes.
3.1 Repertório Bibliográfico Universal
O desenvolvimento de técnicas de
organização e di fusão da informação são ideai s buscados por muitos estudiosos,
tal como Paul Otlet, que se destaca por tentar reunir teoria e prática na criação
de metodologias para análise e síntese do conhecimento, no intuito de viabilizar
seu amplo acesso. Partindo desse ideal,
Otlet se dedicou a projetos de socialização do conhecimento; como por exemplo,
a Enciclopédia Documentária, o Mundaneum e o Repertório Bibliográfico Universal
(RBU) ou ainda Bibliografia Universal; e teve como base o tratamento, análise e
síntese do conhecimento registrado. Porém,
o mais importante para o presente trabalho é o RBU, o primeiro repertório criado
pela equipe de Otlet que se caracteriza como um inventário de todo o conhecimento
disponibilizado.
Podemos considerar o RBU o primeiro
sistema de recuperação da informação criado, sendo que “A metodologia empregada
nos repertórios combinou três
elementos: a) a Classificação Decimal Universal; b)
as fichas 7,5x
12,5 e folhas
soltas de t amanho
padronizado; e c) o princípio monográfico” [Sant os,
2006, p. 53].
Esses três elementos compõem os conceitos, técnicas e metodologias para
a construção do sistema de recuperação da informação por meio dos Repertórios Bibliográficos. O sucesso do sistema de recuperação da
informação elaborado por Otlet, por meio do RBU, não se deve somente a
padronização adotada tanto no tamanho das fichas, mas também em seu
preenchimento e principalmente nos métodos e técnicas adotados par a o tratamento
do conteúdo informacional [Santos, 2006]. Os métodos e técnicas adotados foram:
o Princípio da monografia, o Princípio da continuidade e da pluralidade da
elaboração, o Princípio da multiplicação dos dados.
O principal fator de êxito do RBU
proposto por Otlet foi o Princípio da monografia, mais conhecido como Princípio
monográfico, no qual o conteúdo informacional do documento era seccionado e separado
em fichas ou folhas soltas padronizadas. Esse processo garantia a seleção das informações
mais significativas par a ser em tratadas posteriormente pelos outros princípios. O Princípio de continuidade e pluralidade consistia
na elaboração das fichas e folhas sol tas em campos de dados padronizados, garantindo
a inclusão de dados e informações úteis para a representação e localização do documento.
O Princípio da multiplicação dos dados consistia na multiplicação das fichas
para que pudessem ser incluídas em diversos pontos de acesso do sistema [Santos,
2006].
Observa- se claramente que os princípios
estabelecidos, juntamente com o uso da CDU, compõem uma estrutura para a
representação das informações em um sistema de recuperação da informação. E apesar
de incipientes quando comparada com sistemas de recuperação da informação
contemporâneos, os princípios elaborados por Otlet comportam um valor
significativo, pois formam a base par a os sistemas modernos.
Ainda que trouxessem contribuições para todas
as áreas do conhecimento, os projetos de Otlet esbarravam em questões técnicas como
a falta de ferramentas tecnológicas que otimizassem a
recuperação da crescente
massa informacional que
estava surgindo. Assim, a efetivação das idealizações de Otlet
só iria ocorrer com os posteriores avanços tecnológicos na área de informática e
o desenvolvimento das TIC’s. Embora muito
dos princípios de tratamento
informacional não tenham
sido utilizados, vê-se
hoje em dia
uma retomada de velhos
princípios, tais como
os estabelecidos por
Otlet e Bush,
em uma nova
abordagem marcada pelo avanço tecnológico atual.
3.2 Web Semântica
As
TIC’ s originaram novos ambientes
de disponibilização da informação, tal como a Web. Entretanto, ao mesmo tempo em
que trouxeram soluções, intensificaram ainda mais o número de informações
disponibilizadas e, consequentemente, os
problemas de recuperação
da informação. Contudo, presencia-se atualmente uma
mudança de paradigma
onde o conteúdo
informacional passa a ser o foco
e não mai s o documento em si ou o suporte
informacional no qual está veiculado [Robredo],
2004) . Neste senti do,
vêm sendo desenvolvidas
novas ferramentas, técnicas
e métodos par a tentar melhorar
a questão da recuperação da informação, um exemplo dessas propostas refere-se ao surgimento da Web Semântica.
Desenvolvida por
Tim Berners-Lee e liderada pela
W3C a Web
Semântica é um
projeto a ser implantado
e vem sendo
apontada como um
caminho para solucionar
os problemas de recuperação
da informação na web, pois conta
em sua
estrutura de implantação com
métodos mais adequados de tratamento
informacional (representação e
organização) , bem como o estabelecimento do
contexto semântico em que
a informação se insere
para que
sejam desenvolvidas técnicas
mais eficazes de recuperação
[Alves, 2005].
O
problema enfrentado com as atuais ferramentas
de busca na
web é que
não são capazes de
“raciocinar ” sobre os
dados e informações,
como os seres
humanos que fazem associações de ideias. Partindo desse princípio a
Web Semântica traz em seu
escopo, ferramentas tecnológicas,
como os agentes inteligentes, capazes de
raciocinar e inferir sobre os dados, na tentativa de melhor ar a recuperação. Mas para isso é preciso que o conteúdo informacional seja devidamente tratado, em outras palavras, a Web Semântica
propõe uma nova forma de organização
informacional par a tornar o conteúdo
dos recursos mais significativos aos raciocínios das
máquinas [Alves, 2005;
Sant ar em Segundo, 2004].
A
estrutura da Web
Semântica se assemelha
aos sistemas de recuperação da
informação, pois também trata
do armazenamento, representação, organização
e acesso aos recursos
informacionais, [Souza; Alvarenga, 2004] com o diferencial de
possuir nova estrutura tecnológica e organizacional que
proporciona uma recuperação
mais eficiente. A
Web Semântica se
constitui como um caminho
na busca de
soluções par a os
problemas já mencionados
e é difícil
prever seu futuro, pois
promover a “compreensão”
do significado das
informações requer a
implantação de estruturas complexas,
t ai s como os
agentes inteligentes, ainda
em desenvolvimento na área de
Inteligência Artificial [Alves, 2005].
A
Web Semântica estabelece
uma relação com
a CI pela
utilização das teor i as
de organização informacional, ou
seja, todo embasamento
teórico, filosófico, metodológico e conceitual
da Web Semântica
se relaciona ao núcleo duro da área [Souza;
Alvarenga, 2004]. Além disso, a
Web Semântica tem como base o uso de ferramentas tecnológicas para a
implantação de sua estrutura e sob
esse aspecto se relaciona com
a Ciência da
Computação, tal como
os sistemas de recuperação da informação presentes na CI .
Como
podemos perceber , a
Web Semântica se
constitui de duas
formas, de um lado a estrutura
tecnológica que viabiliza
a recuperação da informação de
modo mais ágil,
e de outro
a estrutura organizacional da informação que
efetiva o funcionamento
da recuperação, com
base no tratamento do conteúdo informacional
.
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Analisando as propostas dos estudiosos abordados neste trabalho:
Paul Otlet com a questão da organização do
conhecimento; Vannevar Bush na questão das tecnologias para a
recuperação da informação; e Tim
Berners-Lee com o atual estudo da Web Semântica, pode- se verificar
que essas propostas apresentam uma
estreita relação no
que se refere
à recuperação da
informação e consequentemente com
a área de
CI e Ciência
da Computação. Mais
do que isso,
as propostas mostram que
os princípios, métodos
e tecnologias adotadas
são comuns entre
elas, porém, foram estabelecidas em
contextos diferentes devido
ao avanço das
tecnologias da informação.
Em outras palavras, t rata-se de uma nova abordagem par a
princípios já estabelecidos
anteriormente.
A
Web Semântica engloba
muito dos princípios
e idéias elaboradas
por Vannevar Bush
e Paul Otlet. A associação de idéias tal como a mente
humana, elaborada por Bush, está contemplada na Web
Semântica, que estabelece
em sua proposta
que a recuperação
seja mai s significativa
por meio da associação
de idéias entre
conceitos a serem
compreendidos pelos agentes
inteligentes.
Além disso, toda contribuição dada por Bush par a o desenvolvimento das tecnologias, como a teoria de hiper texto, por exemplo, atua direta ou indiretamente na construção da
Web Semântica, que pode ser considerada como
um progresso a
caminho das propostas
idealizadas por Bush
na questão de recuperação da informação.
Já em relação às idealizações de Otlet observa-se
que a Web Semântica também se preocupa com o
conteúdo do documento,
tal como existiu
no RBU. O
foco no conteúdo
permite na Web Semântica
toda a aplicação
da estrutura tecnológica
necessária par a seu
estabelecimento e consequentemente, um
tratamento informacional mai s
detalhado e adequado
de acordo com os
princípios que estabelece.
Além disso, quando
falamos em tratamento
informacional , nota-se na Web
Semântica alguns princípios
estabelecido por Otlet,
tal como o
princípio monográfico, com o foco
no conteúdo informacional e não no
suporte ou formatação
(representado na estrutura da Web
Semântica pela linguagem
XML - Extensible
Markup Language) ; o
princípio de continuidade
e pluralidade, com a representação padronizada
de informações e
a inclusão de informações
complementares ou adicionais
(representado na estrutura
da Web Semântica
pelo uso de meta dados) ; e o princípio de
multiplicação, proporcionado pela representação
e descrição ampla do recurso e a
diversidade de pontos
de acesso à
eles (representado na
estrutura da Web
Semântica pelas ontologias e associações entre conceitos) . A grande
diferença é que os princípios já elaborados por
Otlet se apresentam aperfeiçoados
em uma nova abordagem tecnológica.
Em se tratando de contribuições da CI
para a Ciência da Computação, bem como da Ciência da
Computação para a CI
, identifica-se, a
partir do exposto
trabalho que isso
se dá mediante
a recuperação da informação,
com a aplicação
das tecnologias da
informação e da
organização informacional.
A Ciência da
Computação fornece o meio, as
ferramentas tecnológicas par a
o desenvolvimento do ambiente de
recuperação da informação; já a CI fornece os métodos e técnicas de tratamento
informacional (organização e representação) dos
documentos disponíveis e faz uso das aplicações tecnológicas em seu fazer
. A atuação conjunta das duas áreas favorece a constituição de uma estrutura
tecnológica e informacional , que
contempla as metodologias
de tratamento informacional sedimentadas
na área de
CI e as
aplicações tecnológicas desenvolvidas
na área de Ciência
da Computação. Sendo
assim, uma área
complementa a outra
para que suas
ferramentas e métodos
atuem em conjunto
no intuito de
garanti r a acessibilidade e
usabilidade ótima nos
mais variados tipos de ambientes informacionais.
REFERÊNCIAS
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conceito revisada em
conexão com ontologias
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das Bibliotecas tradicionais
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