[...] Só se constrói uma sociedade a partir do momento em que compreendemos os fenômenos a nossa volta e, a partir dessa compreensão, construímos mecanismos capazes de modelar as situações cotidianas. Nesse contexto, as ciências exatas cumprem o papel de explanar os fenômenos naturais, descobrir e executar novos modelos de resolução de problemas, analisar e prever o funcionamento do mundo que nos rodeia, bem como inovar a tecnologia em prol do desenvolvimento humano coletivo [...]
sábado, 2 de novembro de 2013
ATIVIDADES DOS SETORES DE EPIDEMIOLOGIA E ESTATÍSTICA NO CENTRO DE SAÚDE
Blog Ciências
Exatas Contemporâneas, de autoria de Álaze Gabriel.
Disponível em http://cienciasexatascontemporaneas.blogspot.com.br/
Autoria:
José Maria Pacheco de Souza; Victório Barbosa; Ruy
Laurenti; Sabina Lea Gotlieb; Maria Helena Silveira
Do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP –
Av. Dr. Arnaldo, 715 – São Paulo, SP – Brasil
RESUMO
São analisadas as atividades dos setores de
epidemiologia e estatística no centro de saúde. As atividades de epidemiologia
têm como objetivo geral caracterizar as doenças e problemas de saúde da região.
As de estatística fornecem os dados necessários aos diversos setores do centro
de saúde, incluindo-se os de epidemiologia e administração. São feitas
sugestões para correção quantitativa e qualitativa dos dados obtidos. Algumas
considerações são feitas sobre a possibilidade de aproveitamento dos setores de
epidemiologia e estatística para ensino e treinamento.
Unitermos: Serviços de saúde. Epidemiologia. Estatística
vital. Bioestatística.
1 – INTRODUÇÃO
No sistema de saúde do Estado de São Paulo, os
centros de saúde desempenham papel fundamental; eles são os órgãos que estão em
contato direto com a população, podendo ser encarados, inclusive, como pontes
que ligam a comunidade com a administração central.
Assim, da mesma forma que é através dos centros de
saúde que a Secretaria de Saúde oferece grande parte de seus serviços, tais
centros devem ser, também, os elementos primários na obtenção das informações
necessárias ao bom andamento das funções da Secretaria.
De fato, isto é previsto no item III do parágrafo
único do artigo 2.° do Decreto 50.192, de 13/8/68, que dispõe sobre medidas
para a reforma administrativa da Secretaria de Estado dos Negócios da Saúde;
neste item são expressas as atividades de saúde pública em nível local, segundo
quatro possíveis tipos de programas, constando, em três programas,
"epidemiologia e estatística".
O objetivo deste trabalho é analisar as atividades dos
setores de epidemiologia e estatística em um centro de saúde com área
programática bem delimitada e bem definida. É baseado em projeto de programa a
ser desenvolvido pelo Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde
Pública da USP, junto ao Hospital Centro de Saúde de Cotia, o qual faz, também,
considerações sobre atividades de ensino e treinamento.
2 – SETOR DE EPIDEMIOLOGIA
O objetivo geral destas atividades é caracterizar
epidemiologicamente as doenças e os problemas de saúde da região. Será
enfatizado o estudo e caracterização epidemiológica das doenças transmissíveis,
devendo ser incluídos aspectos de nutrição. Parte dos dados utilizados serão
fornecidos pelo setor de estatística, mas outros dados serão conseguidos
diretamente pelo setor de epidemiologia, em caso de levantamentos específicos,
por exemplo.
Especificamente, o setor de epidemiologia se
dedicará: 1) ao estudo das endemias da região, em função do tempo, espaço e
atributos da população; 2) ao estudo das epidemias, quando for o caso,
estabelecendo as suas origens, modos de transmissão e dados sobre a população
atacada, de acordo com seus principais atributos; 3) ao estudo de aspectos
epidemiológicos obscuros de doenças mal conhecidas ou de outras já bem
caracterizadas; 4) ao estudo de fatores de importância da estrutura
epidemiológica da região que possam influir sobre a ocorrência de doenças; 5) à
avaliação dos resultados de programas ou campanhas profiláticas; 6) à
realização de pesquisas epidemiológicas, de natureza variada, de interesse
local.
Este conjunto de atividades que permite reunir a
informação indispensável para, a todo momento, conhecer a história natural da
doença, detectar ou prever qualquer alteração que possa ocorrer nos seus
fatores condicionantes, com a finalidade de recomendar oportunamente, em bases
sólidas, as medidas que conduzam à prevenção e/ou ao controle da doença, a
curto, médio e longo prazo, é a chamada vigilância epidemiológica, função
inerente ao setor de epidemiologia do centro de saúde.
3 – SETOR DE ESTATÍSTICA
Tem por objetivo coletar, criticar, apurar,
analisar, interpretar e publicar dados, produzindo informação. É o principal
alimentador dos outros setores, entre eles o de epidemiologia, já considerado,
e o de administração, este último com estatísticas de serviço. Neste setor são
encontrados dois sub-setores, o de estatística vital e o de bioestatística.
3.1 – Estatística vital – trabalha com dados
de mortalidade e natalidade (nascidos vivos e nascidos mortos), que são os de
principal interesse. A seguir, são examinados aspectos de mortalidade.
A coleta de dados deve ser feita
periodicamente (mensal ou quinzenal), a partir dos atestados de óbitos
registrados nos cartórios de registro civil do respectivo município, dos
municípios vizinhos onde se suspeite convirjam os óbitos da região. A correção
quantitativa dos dados será feita pela procura de óbitos não registrados,
através de cemitérios clandestinos ou sepultamento em cemitérios oficiais de
óbitos não registrados. Deve haver, ainda, a verificação dos casos registrados
como "nascidos mortos" mas que, na verdade, foram de "nascidos
vivos" que faleceram após alguns instantes de vida, devendo ser
classificados, portanto, como óbitos; esta pesquisa é um processo contínuo, e
será efetuada em hospitais, maternidades, etc., e principalmente junto às
"curiosas" existentes na área. Há, ainda, o processo de correção
qualitativa, a fim de melhorar a qualidade da informação do atestado de
óbito: para cada atestado (ou amostra de atestados) será feita uma entrevista
com o respectivo médico, a fim de conhecer a verdadeira causa básica e as
associadas; o objetivo não é somente corrigir as informações, mas tambem
"educar"' os médicos da área para se obter dados mais confiáveis. A apuração
e apresentação dos dados de mortalidade devem ser feitas segundo idade,
sexo, locais de ocorrência e residência, assistência médica e causas de morte
(básica e associadas).
Quanto à natalidade, são pontos principais: a coleta
de dados – deve ser periódica (mensal ou quinzenal), não só dos nascimentos
registrados nos cartórios do respectivo município, mas, a exemplo da
mortalidade, também dos municípios vizinhos e municípios para onde convirjam os
nascimentos da região. Há a necessidade de se instituir a "declaração
de nascimento", através de formulário próprio, onde constem: nome e
idade dos pais, data do nascimento, sexo da criança, peso ao nascer, tempo de
gestação, ordem do nascimento, local, além do endereço do cartório onde deve
ser feito o registro; tais formulários serão preenchidos no hospital ou em
outro local onde se der o nascimento, sendo uma via entregue aos pais, para
encaminhamento ao cartório; tais vias serão coletadas periodicamente nos
cartórios e comparadas com as vias em poder dos hospitais e outros serviços,
servindo de base para estimativas de sub-registro de nascimento. É claro que
tais formulários devem ser entregues, também, a parteiras e
"curiosas", para cobertura a mais completa possível dos eventos. A correção
quantitativa dos dados de nascimento terá como base principal esta
"declaração de nascimento", mas poderá ser suplementada por
levantamentos feitos especificamente para este fim. A correção qualitativa,
com implicações quantitativas na mortalidade, será feita pela identificação dos
erros de diagnóstico quanto a "nascimento morto" e "nascimento
vivo", junto aos hospitais, maternidades, parteiras e
"curiosas", com entrevistas bem conduzidas. A apuração e
apresentação dos dados de natalidade será feita segundo sexo, locais de
residência e de ocorrência, assistência, idade da mãe, ordem do nascimento,
peso da criança e duração da gestação.
3.2 – Bioestatística – deve assessorar os
trabalhos conduzidos dentre os programas do centro de saúde, com papel
fundamental na avaliação dos resultados; técnicas apropriadas de pesquisa de
serviços de saúde podem ser utilizadas, quando pertinentes. A amostragem
desempenhará função importante no delineamento de levantamentos
epidemiológicos.
4 – ENSINO E TREINAMENTO
Alguns centros de saúde podem e devem ser
utilizados como campo de treinamento em serviço para a própria Secretaria da
Saúde e para ensino por entidades acadêmicas, tais como escolas de saúde
pública e faculdades de medicina. Especificamente, no ensino de Estatística e
Epidemiologia, se implantados os setores propostos, alunos poderão adquirir
bastante conhecimentos e ser devidamente treinados, a qualquer instante que
visitem o centro de saúde, sem necessidade de preparação prévia da instituição,
de cada vez que recepcionar estudantes.
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao se analisar os setores de epidemiologia e de
estatística de um centro de saúde, procurou-se lembrar pontos importantes
destas atividades, chamando-se a atenção para aspectos metodológicos. É fundamental,
no entanto, que não se perca de vista que tais setores são partes integrantes
do centro de saúde, e, mais ainda, a serviço deste. E que os centros de saúde
pertencem a um sistema bastante amplo e complexo, o de Saúde, com um fim social
muito importante, qual seja, o de melhorar e manter as condições de saúde da
população, procurando, inclusive, diminuir a desigualdade existente entre
diferentes estratos populacionais.
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