sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

RESUMO DO ORIGEM E DA EVOLUÇÃO DAS CIÊNCIAS DA COMPUTAÇÃO, DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO - TÓPICO 1



Blog “Ciências Exatas Contemporâneas”, de autoria de Álaze Gabriel.


Autoria:
1 - Rachel Cristina Vesu Alves. Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP –  Campus de Marília.
2 - Vângela Tatiana M. Banhos. Mestranda  do  Programa  de  Pós-graduação  em  Ciência  da  Informação  da  Faculdade  de Filosofia e Ciências da UNESP –  Marília.
3 - Ana Lúcia A. O.  Bicheri. Mestranda  do  Programa  de  Pós-graduação  em  Ciência  da  Informação  da  Faculdade  de Filosofia e Ciências da UNESP –  Marília.
4 - José Eduardo Santar em Segundo. Tecnólogo em Processamento de Dados. Doutorando do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP –  Campus de Marília.
5 - Luana Maia Woida. Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP –  Campus de Marília.


CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO,  CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO E RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS MÉTODOS E TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO UTILIZADOS AO LONGO DO TEMPO

RESUMO

A recuperação da informação vem sendo estudada sob duas visões: da área da Ciência da Informação e da  Ciência  da  Computação.  A  discussão  fundamenta-se  em  uma  breve  revisão  de  literatura,  buscando contemplar  os  precursores  das  temáticas  de  tratamento  informacional  (organização  e  representação),recuperação da informação, bem como, as Tecnologias de Informação e Comunicação. Com o objetivo de  estabelecer  as  relações  e  contribuições  entre  as  áreas  de  Ciência  da  Informação  e  Ciência  da Computação,  em  relação  à  recuperação  da  informação,  destaca-se  uma  contribuição  mútua  entre  as áreas,  no  intuito  de  garantir  acessibilidade  e  usabilidade  ótimas  dos  ambientes  informacionais diversos.

1 INTRODUÇÃO

A  preocupação  com  a  recuperação  da  informação  vem  de  épocas  remotas  e  passou  a  ser amplamente  abordada  e  discutida  em  diversas  áreas  do  conhecimento.   Ganhou  atualmente  maior destaque devido à  quantidade crescente  de  informações disponibilizadas e pelo uso de Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC’ s, constituindo-se em um tema comum entre áreas  tais como a
Ciência da Computação e Ciência da Informação -  CI . A  CI   é  uma  área  que  busca  investigar ,  entre  outros  assuntos,  a  geração,  a  organização,  o processamento,   a  recuperação  e o uso da  informação,  em  diversos ambientes. É, por   natureza,   uma área  interdisciplinar,  por   isso  seus  estudos  recebem contribuições  de  várias  áreas, ao mesmo  tempo em  que  seus  produtos  são  subsídios  para  as  outras  áreas  do  conhecimento.  Além  disso,   está intimamente ligada com as Tecnologias de Informação e Comunicação vigentes. Deste modo, é nítido que a CI  estabelece uma relação com a Ciência da Computação no que se refere à recuperação da informação.  Assim, a discussão está fundamentada em uma breve revisão de  literatura  da  CI,  buscando  contemplar   os  precursores  das  temáticas  de  organização  e representação  da  informação,  da  recuperação  da  informação,  bem  como  das  Tecnologias  de Informação e Comunicação.
Lembrando  que  a  preocupação  com  a  recuperação  da  informação  é  uma  constante  na  CI  e também sendo contemplada nos estudos de Ciência da Computação,  o objetivo a ser  tratado está em estabelecer as relações e contribuições da CI para a área de Ciência da Computação e vice-versa, no que se refere à recuperação da informação.
Tendo  em  vista  que  a  organização,  representação  e  recuperação  da  informação  sempre estiveram atreladas ao uso das tecnologias vigentes, propõe-se abordar  os princípios e metodologias de  organização  e  representação  da  informação  estabelecidos  na  CI,  bem  como  as  ferramentas  e TIC’s  da  área  de  Ciência  da  Computação  para  facilitar   os  processos  de  recuperação,  as  quais procuramos enfocar  na Web Semântica.
Par a  isso,   ter-se- á  como  base  de  análise  as  idealizações  de  Paul  Otlet  com  a  questão  da organização do conhecimento; as idealizações de Vannevar  Bush  na questão das  tecnologias para a recuperação da informação;  e o atual estudo da Web Semântica proposto por Tim Berners-Lee,  que busca  uma  melhor   recuperação  baseada  não    em  tecnologias  avançadas,  mas  também  com  uma melhor  organização e  representação do conteúdo disponibilizado.

2 PRECURSORES E FATOS HISTÓRICOS DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO:  ALGUNS ASPECTOS SOBRE RELAÇÃO COM A TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

O  desenvolvimento  humano  tem  proporcionado  inovações  tecnológicas  que  contribuíram par a  que  todas  as  áreas  do  conhecimento,  tanto  teórica  como  prática,  se  desenvolvessem  mais rapidamente  e  com  resultados  mais  expressivos.   Neste  sentido,   as  novas  tecnologias  criadas  nas últimas décadas,  em especial  as TIC’s,  tornaram- se ainda mais evidentes nos últimos anos.
Seus  reflexos  podem  ser  percebidos  na  CI  por   ser   uma  área  intimamente  ligada  às tecnologias  de  informação.  Vários  teóricos,  tal  como  Saracevic  [1996],  consideram  a  tecnologia como elemento chave no desenvolvimento desta ciência,  pois a criação de ferramentas tecnológicas subsidia o desenvolvimento das  teorias no propósito de alcançar  os objetivos estabelecidos na CI  em relação  aos  problemas  aos  quais  ela  se  dedica  resolver.  Contudo  é  importante  ressaltar   algumas características  da  CI,  tal  como  sua  origem,   características  e  relações  com  as  tecnologias  de informação,  para que possam ser  criadas bases para uma posterior  discussão.
Pode-se  dizer   que  a  CI  é  uma  ciência  recente,   sua  origem  é  marcada  pela  revolução científica  e  tecnológica  após  o  período  da  Segunda  Guerra  Mundial   [Messias,  2005].  A origem da CI, de acordo com Pinheiro [1999, p. 175], advém de suas raízes, [...] de um lado a Documentação e, de outro a recuperação da informação.   Na primeira o que importa é o registro do conhecimento científico,  a memória intelectual  da civilização e, no  segundo,  as  tecnologias  de  informação.  Ciência  e  Tecnologia  foram  os  elementos fertilizadores e propulsores de seu nascimento,  fruto  do crescimento  de equipes científicas, do  aumento  do  número  de  cientistas  e  pesquisadores,   e  da  aceleração  de  pesquisas, portanto,   de  conhecimento,   além  dos  desenvolvimentos  tecnológicos,   esforços  decorrentes sobretudo  da    Guerra  Mundial.   E  as  tecnologias,   principalmente  os  computadores  a fazem emergir.
Uma  definição  freqüentemente  retomada  na  literatura  é  a  do  teórico  Borko.  Este,  por  sua vez,   fundamentou-se  nas  discussões  e  primeiras  tentativas  de  diferenciar   a  CI  tanto  da Biblioteconomia como da Documentação, ocorridas no Georgiatech entre 1961 e 1962. Ciência  da  Informação  é  a  disciplina  que  investiga  as  propriedades e  o  comportamento  da informação,   as  forças  que  governam  seu  fluxo  de  informação,   e  os  meios  de  processar  a informação  para  otimizar  sua  acessibilidade  e  uso.  Esta  é  relacionada  ao  corpo  de conhecimento  relativo  à  origem,   coleta,   organização,  armazenamento,  recuperação, interpretação,  transmissão,   transformação  e  utilização  da  informação  [...]  [Borko,   1968, tradução nossa].
Há que  se considerar esta uma das definições mais  importantes, pois corrobora com as afirmações  de  que  a área  é  interdisciplinar e  que  tem  influências  de  outras áreas  sob  o  prisma pelo  qual  percebe  os  problemas  relacionados  à  informação,  bem  como  todas  as  formas  de trabalho  realizado  sob  o  ciclo  informacional.  Nesse  contexto,  a  abordagem  sobre  as tecnologias  da  informação  torna-se  de  particular  interesse  para  os  objetivos  da  presente discussão,  uma  vez  que  não  se  trata  apenas  de  novidades  de  informática,  mas  sim  das principais  ferramentas  tecnológicas  e  métodos  que  venham  a  contribuir  para  o  tratamento  da informação.
Pode-se  dizer  que  a  preocupação  em  organizar  e  tornar  acessível  por  meio  da recuperação  os  registros  do  conhecimento  se  constitui  um  tema  antigo  na  CI.  Isso  pode  ser notado  nas  primeiras  tentativas  do  homem  de  armazenar,  organizar  e  recuperar  a  informação registrada,  sendo  que  em  cada  época  utilizava-se  das  tecnologias  disponíveis  para  que  a recuperação  da  informação  pudesse  ser  realizada.  Essa  vertente  da  origem  da  CI  é  utilizada por alguns autores, tal como Shera apud Messias [2005].
Ainda em  relação  à  origem,   destacam-se  alguns  autores  que  estão  diretamente  ligados  ao desenvolvimento e uso  tecnológico na CI  em seus respectivos tempos, autores conhecidos e que  tem papel   decisivo  na  história  da  área;   são  eles  o  belga  Paul   Otlet  e  o  americano  Vannevar   Bush. Atualmente  destaca- se  o  inglês  Tim  Berners-Lee,  que  será  abordado  nessa  discussão  no  intuito  de confrontar os estudos anteriores com os atuais. Estes teóricos utilizaram, direta ou indiretamente, as tecnologias  de  informação  e  métodos  de  organização  e  representação  da  informação  no desenvolvimento  de  suas  pesquisas,  contribuindo  fundamentalmente  par a  o  desenvolvimento  das áreas de CI e Ciência da Computação.
O  cientista  belga  Paul  Otlet ,  reconhecido  como  o  “pai”  da  documentação,  representa  um marco  dentro  da  história  relativa  dos  precursores  da  CI .  A  visão  ampla  de  Otlet  revolucionou  o modo  de  trabalhar   com  a  informação  em  sua  época,  pois  não    sistematizou  as  questões  teóricas presentes  no  problemático  crescimento  exponencial   dos  documentos,  mas  principalmente estabeleceu  metodologias  e  técnicas  na  tentativa  de  solucionar   a  questão  da  recuperação,  acesso  e circulação  da  informação  [Santos,   2006].  Otlet   fez  se  valer   das  tecnologias  disponíveis  na  época para  que  pudesse  colocar   em  prática  suas  idealizações  de  universalização  do  acesso  ao conhecimento.
Juntamente  com  Henri  La  Fontaine,  Otlet   foi  líder   do  Movimento  Bibliográfico ocorrido na Europa no final  do século XIX e início do XX,  no qual procurou desenvolver  meios de acesso ao conhecimento.  Seus estudos foram de grande contribuição para, [...] a ampliação do conceito de documento; o estabelecimento de sistemas de tratamento e recuperação  da  informação  como  são  entendidos  atualmente;   a  estruturação  de  redes internacionais  de  cooperação  para  a  coleta  e  disseminação  da  informação  e  o estabelecimento da Documentação  [Santos,  2006, p.  14].
Contudo,  é no estabelecimento de sistemas de tratamento e recuperação da  informação que se  concentra  seu  trabalho.  Otlet   e  outros  pesquisadores  envolvidos  fundaram  em  1895  o  Instituto Internacional  de  Bibliografia    IIB  e  iniciaram  uma  revolução  nesta  área.   Ao  contrário  dos bibliotecários,  basicamente  centrados  no  documento,   Otlet  buscou  desenvolver   técnicas  e  métodos de organização baseado no conteúdo dos documentos.
Pretendiam  uma organização mundial  da  informação e par a  isso  suas pesquisas  voltaram-se  para  o  desenvolvimento  de  um  sistema  de  informação  especializado  e  de  produtos,   tais  como  o Repertório  Bibliográfico  Universal  que  contemplava  a  produção  científica  da  época.   Outra importante  ferramenta  desenvolvida  por   Otlet   em  1899  foi   a  Classificação  Decimal   Universal  - CDU, técnica que ainda é  utilizada por  grande parte das bibliotecas do mundo.  Para Otlet  a CDU era uma representação sistemática do conhecimento que,  por  meio de códigos padronizados, estabelecia os  relacionamentos  e  vínculos  entre  os  assuntos  representados  e  posteriormente  com  os  objetos.
Deste  modo,  pode-se  dizer   que  a  grande  contribuição  de  Otlet   foi  o  enfoque  dado  ao  conteúdo informacional  e  às  técnicas  e  métodos  de  tratamento  informacional  desenvolvidas  para  a disponibilização,  acesso e recuperação da informação. Em  fins  da  Segunda  Guerra  Mundial  destacou-se  Vannevar  Bush  [1945],  cientista americano  que  coordenou  mais  de  6000  cientistas,   bem  como  a  aplicação  da  ciência  para  o desenvolvimento  de  sistemas  armamentistas.  Contribuiu  para  avaliar   o  estado  da  ciência  e  da tecnologia e preocupou-se em  tornar   o  conhecimento humano mais  acessível.  Fez comentários  que se  identificariam  diretamente  com  os  interesses  da  futura  CI   e  sua  interdisciplinar idade  com profissionais dedicados à tecnologia da informação.
Diagnosticou  a  dificuldade  cada  vez  maior   do  desenvolvimento  científico  em  função  de ineficientes  sistemas  de  produção,   organização,  acesso,  recuperação  e  disseminação  da  informação devido  ao  crescimento  do  conhecimento  humano.  Alertou  para  a  perda  de  conteúdos importantíssimos  em  meio  a  uma  imensidade  de  outros  textos  e  conseqüente  duplicação  de pesquisas.   Mas  o  problema  não  se  restringia  ao  quantitativo  aumento  de  informações,  e  sim  na maneira  de  processá-la,   na  demanda  de  pesquisas  e  experiências  que  pediam  processamentos  que fizessem  circular  eficazmente  um  volume  infinito  de  informação.  Para  gerenciar  este  problema, havia a necessidade de novas  tecnologias  (novas metodologias, instrumentos e máquinas).  
  naquela  época  Bush  abordou  preocupações  atuais  da  comunidade  científica  e  da humanidade  como  um  todo:   Qual   a  maneira  eficiente  de  armazenar   e  recuperar   o  conhecimento humano? Como fazer  uso apropriado do crescente volume de informações? Como impedir  que uma informação  relevante  passe  despercebida  em  meio  a  uma  abundante  geração  de  conhecimento? Como mecanizar o registro de idéias e experiências de forma a não estacionar  no  tempo em função da limitada capacidade de memória? Bush  explicava  que  a  mente  humana  funciona  por   associação  de  idéias  e  elaboração  de trilhas que levam uma idéia a outra, e afirmava que o homem não poderia duplicar  artificialmente  tal processo,   mas  poderia  aprender   com  ele  [Bush,  1945].  Ao  sugerir   a  forma  do  pensar  para transformar   informação  em  conhecimento  inseriu  a  noção  de  associação  de  palavras/conceitos  na organização da informação.  Acabou por descrever a  idéia do que conhecemos hoje por  hipertexto.
Mencionou  que  o  registro  feito  por   meio  da  escrita,   fotografia  e  gravação  com  suportes  e recursos que envolviam papel,  filme, disco,  lápis e máquina de escrever,  se aperfeiçoaria e evoluiria, fazendo  surgir em  novos  meios  de  transmissão  do  conhecimento.   Expôs  que  o  registro  de  idéias precisava,  além  de  estar   armazenado  em  algum  lugar,  ser   consultado.   Sugeriu  a  redução  de  espaço par a  disposição  de  informações  contidas  em  uma  enciclopédia  e  em  todo  um  acervo  de  biblioteca, minimizando espaço,  custo e aumentando a possibilidade de acesso [Bush, 1945].
Sua visão é imensamente importante para a CI, pois além dos aspectos já citados,  falou em facilitar  e  agilizar   o  registro,   a  busca  e  recuperação  da  informação,   alertando  para  o  problema  de localização  da  informação,   ligado  à  superficialidade  dos  sistemas  de  indexação  adotados (normalmente ordem alfabética ou numérica). Bush  idealizou  um  mecanismo  para  automatizar  as  ações  de  armazenar,  indexar  e recuperar   conhecimento,  chamando  esse  aparelho  de  Memex  (Memory  Extension).   Foi  uma  das principais contribuições que levaram ao desenvolvimento teórico de um equipamento que tinha por princípio  reproduzir   a  capacidade  de  associação  das  idéias  humanas.   Essa  era  a  característica essencial do Memex, qual seja, a possibilidade de se estabelecer  associação de idéias,  ligações entre um item e outro. O Memex, caso chegasse a existir, ser ia uma máquina hipertexto, um precursor  do computador  pessoal, seria um misto de arquivo e  biblioteca.  Um dispositivo onde se armazenariam livros,   publicações,  registros,  anotações  e  fotos,  e  que  poderia  ser   consultado  com  extrema velocidade e flexibilidade, como se fosse uma extensão da memória humana.
Infelizmente a tecnologia da época não acompanhou o conhecimento teórico de Bush e assim não permitiu o desenvolvimento do Memex, porém é fácil perceber que sua idéia deu origem à relação hipertextual, utilizada hoje em dia em grande escala pela internet.  O pensamento em  forma de  conexões  é  realmente  algo  diferenciado  na  época  de  Bush,  visto  que  todas  as  teorias  e  pensamentos eram construídos linearmente. Com tamanha visão e imaginação, pode-se afirmar que Bush foi um pioneiro de uma ideia que tantos anos depois originou a World Wide Web.

3 VELHOS  PRINCÍPIOS, NOVAS  ABORDAGENS:  O  REPERTÓRIO BIBLIOGRÁFICO  UNIVERSAL E A WEB SEMÂNTICA

Conforme    apontado  a  recuperação  da  informação  é  uma  questão  de  interesse  de  duas áreas,  a  CI   e  a  Ciência  da  Computação,  é  o  ponto  de  convergência  de  técnicas,   métodos  e tecnologias par a um fim comum.
Os  avanços  tecnológicos  modificaram  o  modo  de  realizar  as  tarefas  em  diversos  ramos  de atividade,  contudo,  conforme  aponta  Alvarenga  [2001]  "Mudam- se  os  meios,  sofisticam- se  os instrumentos  e  surgem  nomes  novos  par a  designar  coisas  velhas.   Entretanto,  a  essência  das  coisas permanece".   Em  outras  palavras,  é  preciso  destacar   que  as  atuais  Tecnologias  de  Informação  e Comunicação  possuem  princípios  de  organização,   representação  e  recuperação  da  informação,  os quais  já foram pensados e até mesmo utilizados em outros contextos.
Podemos  visualizar  essa  inter-relação  quando  tratamos,  por   exemplo,  do  Repertório Bibliográfico  Universal  e  da  Web  Semântica.   Duas  tentativas  de  se  oferecer  acesso  ao conhecimento mundial, tendo como características épocas e contextos distintos, porém,  com alguns princípios semelhantes.

3.1 Repertório Bibliográfico Universal

O desenvolvimento de técnicas de organização e di fusão da informação são ideai s buscados por muitos estudiosos, tal como Paul Otlet, que se destaca por tentar reunir teoria e prática na criação de metodologias para análise e síntese do conhecimento, no intuito de viabilizar seu amplo acesso.  Partindo desse ideal, Otlet se dedicou a projetos de socialização do conhecimento; como por exemplo, a Enciclopédia Documentária, o Mundaneum e o Repertório Bibliográfico Universal (RBU) ou ainda Bibliografia Universal; e teve como base o tratamento, análise e síntese do conhecimento registrado.  Porém, o mais importante para o presente trabalho é o RBU, o primeiro repertório criado pela equipe de Otlet que se caracteriza como um inventário de todo o conhecimento disponibilizado.
Podemos considerar o RBU o primeiro sistema de recuperação da informação criado, sendo que “A metodologia empregada nos repertórios combinou três  elementos:  a)  a Classificação Decimal Universal;   b)  as  fichas  7,5x  12,5  e  folhas  soltas  de  t amanho  padronizado;  e  c) o princípio monográfico”  [Sant os,  2006,  p.  53].  Esses três elementos compõem os conceitos, técnicas e metodologias para a construção do sistema de recuperação da informação por meio dos Repertórios Bibliográficos.  O sucesso do sistema de recuperação da informação elaborado por Otlet, por meio do RBU, não se deve somente a padronização adotada tanto no tamanho das fichas, mas também em seu preenchimento e principalmente nos métodos e técnicas adotados par a o tratamento do conteúdo informacional [Santos, 2006]. Os métodos e técnicas adotados foram: o Princípio da monografia, o Princípio da continuidade e da pluralidade da elaboração, o Princípio da multiplicação dos dados.
O principal fator de êxito do RBU proposto por Otlet foi o Princípio da monografia, mais conhecido como Princípio monográfico, no qual o conteúdo informacional do documento era seccionado e separado em fichas ou folhas soltas padronizadas. Esse processo garantia a seleção das informações mais significativas par a ser em tratadas posteriormente pelos outros princípios.  O Princípio de continuidade e pluralidade consistia na elaboração das fichas e folhas sol tas em campos de dados padronizados, garantindo a inclusão de dados e informações úteis para a representação e localização do documento. O Princípio da multiplicação dos dados consistia na multiplicação das fichas para que pudessem ser incluídas em diversos pontos de acesso do sistema [Santos, 2006].
Observa- se claramente que os princípios estabelecidos, juntamente com o uso da CDU, compõem uma estrutura para a representação das informações em um sistema de recuperação da informação. E apesar de incipientes quando comparada com sistemas de recuperação da informação contemporâneos, os princípios elaborados por Otlet comportam um valor significativo, pois formam a base par a os sistemas modernos.
Ainda que trouxessem contribuições para todas as áreas do conhecimento, os projetos de Otlet esbarravam em questões técnicas como a falta de ferramentas tecnológicas que otimizassem  a  recuperação  da  crescente  massa  informacional  que  estava  surgindo.  Assim, a efetivação das idealizações de Otlet só iria ocorrer com os posteriores avanços tecnológicos na área de informática e o desenvolvimento das TIC’s.  Embora  muito  dos  princípios  de tratamento  informacional  não  tenham  sido  utilizados,  vê-se  hoje  em  dia  uma  retomada  de velhos  princípios,  tais  como  os  estabelecidos  por  Otlet  e  Bush,  em  uma  nova  abordagem marcada pelo avanço tecnológico atual.

3.2 Web Semântica

As  TIC’ s  originaram novos ambientes de  disponibilização da informação,  tal como a Web. Entretanto, ao mesmo tempo em que trouxeram  soluções,   intensificaram ainda mais o número de informações disponibilizadas e, consequentemente, os  problemas  de  recuperação  da informação. Contudo, presencia-se atualmente  uma  mudança  de  paradigma  onde  o  conteúdo  informacional passa a ser  o foco e não mai s o documento em si  ou o suporte informacional no qual está veiculado [Robredo],  2004) .   Neste  senti do,  vêm  sendo  desenvolvidas  novas  ferramentas,  técnicas  e  métodos par a tentar  melhorar  a questão da recuperação da informação, um exemplo dessas propostas  refere-se ao surgimento da Web Semântica.
Desenvolvida  por  Tim  Berners-Lee  e  liderada  pela  W3C  a  Web  Semântica  é  um  projeto  a ser  implantado  e  vem  sendo  apontada  como  um  caminho  para  solucionar   os problemas  de  recuperação  da  informação na web, pois conta em  sua  estrutura de  implantação com métodos mais adequados de  tratamento informacional  (representação e organização) , bem como o estabelecimento do  contexto semântico  em  que  a  informação  se  insere para  que  sejam  desenvolvidas  técnicas  mais eficazes de  recuperação [Alves,  2005].
O  problema  enfrentado com as atuais  ferramentas  de  busca  na  web  é  que  não  são  capazes de  “raciocinar ”  sobre  os  dados  e  informações,   como  os  seres  humanos  que  fazem associações de ideias. Partindo desse princípio  a  Web  Semântica  traz em seu  escopo, ferramentas  tecnológicas, como os agentes inteligentes,  capazes de raciocinar  e inferir  sobre os dados, na tentativa de melhor ar a  recuperação. Mas para  isso é preciso  que o conteúdo  informacional   seja devidamente  tratado, em outras palavras, a Web Semântica propõe uma nova forma de organização  informacional par a tornar o conteúdo  dos  recursos mais significativos  aos  raciocínios  das  máquinas  [Alves,  2005;   Sant ar em Segundo,  2004].
A  estrutura  da  Web  Semântica  se  assemelha  aos  sistemas  de  recuperação  da  informação, pois  também  trata  do  armazenamento,  representação,  organização  e  acesso  aos  recursos informacionais,  [Souza;  Alvarenga, 2004] com o diferencial de possuir  nova estrutura tecnológica e organizacional   que  proporciona  uma  recuperação  mais  eficiente.  A  Web  Semântica  se  constitui como  um  caminho  na  busca  de  soluções  par a  os  problemas    mencionados  e  é  difícil  prever   seu futuro,   pois  promover   a  “compreensão”  do  significado  das  informações  requer   a  implantação  de estruturas  complexas,   t ai s  como  os  agentes  inteligentes,  ainda  em  desenvolvimento  na  área  de Inteligência Artificial  [Alves,  2005].
A  Web  Semântica  estabelece  uma  relação  com  a  CI   pela  utilização  das  teor i as  de organização  informacional,   ou  seja,   todo  embasamento  teórico,   filosófico,   metodológico  e conceitual   da  Web  Semântica  se  relaciona ao núcleo duro da área  [Souza;  Alvarenga,   2004]. Além disso, a Web Semântica tem como base o uso de ferramentas tecnológicas para a implantação de sua estrutura  e  sob  esse  aspecto  se  relaciona  com  a  Ciência  da  Computação,  tal   como  os  sistemas  de recuperação da  informação presentes na CI .
Como  podemos  perceber ,   a  Web  Semântica  se  constitui  de  duas  formas,  de  um  lado  a estrutura  tecnológica  que  viabiliza  a  recuperação  da  informação  de  modo  mais  ágil,   e  de  outro  a estrutura  organizacional  da  informação  que  efetiva  o  funcionamento  da  recuperação,  com  base  no tratamento do conteúdo informacional .

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Analisando as propostas  dos estudiosos abordados neste trabalho: Paul   Otlet  com a questão da organização do conhecimento;  Vannevar  Bush na questão das tecnologias para a recuperação da informação;  e Tim Berners-Lee com o atual estudo  da Web  Semântica, pode- se  verificar  que essas propostas  apresentam  uma  estreita  relação  no  que  se  refere  à  recuperação  da  informação  e consequentemente  com  a  área  de  CI   e  Ciência  da  Computação.   Mais  do  que  isso,  as  propostas mostram  que  os  princípios,   métodos  e  tecnologias  adotadas  são  comuns  entre  elas,   porém,   foram estabelecidas  em  contextos  diferentes  devido  ao  avanço  das  tecnologias  da  informação.  Em  outras palavras,  t rata-se de uma nova abordagem par a princípios  já estabelecidos anteriormente.
A  Web  Semântica  engloba  muito  dos  princípios  e  idéias  elaboradas  por   Vannevar   Bush  e Paul  Otlet.  A associação de idéias tal como a mente humana, elaborada por  Bush,  está contemplada na  Web  Semântica,   que  estabelece  em  sua  proposta  que  a  recuperação  seja  mai s  significativa  por meio  da  associação  de  idéias  entre  conceitos  a  serem  compreendidos  pelos  agentes  inteligentes.
Além disso,  toda contribuição dada por  Bush par a o desenvolvimento das  tecnologias, como a  teoria de hiper texto, por exemplo,  atua direta ou indiretamente na construção da Web Semântica, que pode ser   considerada  como  um  progresso  a  caminho  das  propostas  idealizadas  por  Bush  na  questão  de recuperação da  informação.
Já em  relação às idealizações de Otlet observa-se que a Web Semântica  também se preocupa com  o  conteúdo  do  documento,  tal   como  existiu  no  RBU.  O  foco  no  conteúdo  permite  na  Web Semântica  toda  a  aplicação  da  estrutura  tecnológica  necessária  par a  seu  estabelecimento  e consequentemente,   um  tratamento  informacional   mai s  detalhado  e  adequado  de  acordo  com  os princípios  que  estabelece.  Além  disso,   quando  falamos  em  tratamento  informacional ,  nota-se  na Web  Semântica  alguns  princípios  estabelecido  por   Otlet,   tal   como  o  princípio  monográfico,  com  o foco no conteúdo informacional e não no  suporte ou formatação  (representado na estrutura  da Web Semântica  pela  linguagem  XML  -   Extensible  Markup  Language) ;   o  princípio  de  continuidade  e pluralidade,  com  a  representação  padronizada  de  informações  e  a  inclusão  de  informações complementares  ou  adicionais  (representado  na  estrutura  da  Web  Semântica  pelo  uso  de meta dados) ; e o princípio de multiplicação, proporcionado pela  representação e descrição ampla do recurso  e  a  diversidade  de  pontos  de  acesso  à  eles  (representado  na  estrutura  da  Web  Semântica pelas ontologias e associações entre conceitos) . A grande diferença é que os princípios já elaborados por  Otlet  se apresentam aperfeiçoados em uma nova abordagem  tecnológica.
Em se tratando de contribuições da CI para a Ciência da Computação, bem como da Ciência  da  Computação  para  a  CI ,  identifica-se,   a  partir   do  exposto  trabalho  que  isso  se    mediante  a recuperação  da  informação,  com  a  aplicação  das  tecnologias  da  informação  e  da  organização informacional.   A  Ciência  da  Computação  fornece  o  meio,  as  ferramentas  tecnológicas  par a  o desenvolvimento do ambiente de  recuperação da informação; já a CI fornece os métodos e técnicas de  tratamento  informacional   (organização  e  representação)  dos  documentos  disponíveis  e  faz  uso das aplicações tecnológicas em seu fazer . A atuação conjunta das duas áreas favorece a constituição de  uma  estrutura  tecnológica  e  informacional ,  que  contempla  as  metodologias  de  tratamento informacional  sedimentadas  na  área  de  CI   e  as  aplicações  tecnológicas  desenvolvidas  na  área  de Ciência  da  Computação.   Sendo  assim,   uma  área  complementa  a  outra  para  que  suas  ferramentas  e  métodos  atuem  em  conjunto  no  intuito  de  garanti r   a  acessibilidade  e  usabilidade  ótima  nos  mais variados tipos de ambientes informacionais.

REFERÊNCIAS

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